segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A paixão é agora


Se eu morrer, que seja de amor, de paixão, de encanto em qualquer canto. Se o tempo passar e deixar em meu rosto marcas, que elas sejam índices das histórias que carrego, sejam alegres, sejam tristes, essas histórias são os milhares de células que me constituem e me faz único e singular neste vasto mundo de Raimundo .

Que eu possa ver sempre com olhos de crianças, olhos pueris, olhos de quem se surpreende, mesmo que com coisas rotineiras. Que eu também chore, pode ser de manha (até porque um carinho e um agrado fazem muito bem), de tristeza (trás alívio para alma) e chorar de alegria, porque é tão curativo como um copo de chocolate quente em noite fria.
  Vivo todas essas dádivas, porque o amor é hoje. A paixão; é agora.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Aumenta que isso aí é rock n’ roll!

Adicionar legenda

Se fosse mesmo escrever tudo a respeito do rock, teríamos de criar uma enciclopédia tão extensa quanto a britânica. As sementes do blues e do country americano foram espalhadas em searas do mundo todo. O resultado foi uma infinidade híbrida de música e acima de tudo atitude. Fosse pelo balanço das músicas e da pélvis do rei do rock, pelos besouros britânicos que alçaram serem mais famosos do que Jesus ou mesmo pela psicodelia ecoada de uma Fender Stratocaster por um tal de Hendrix.

O sonho de liberdade, paz e amor eram os protagonistas de Woodstock, tríade que centenas hippies, yuppies e caretas endossavam. Sim, as pedras rolaram e continuam rolando. O rock é democrático, não tem sexo, pertence à Alices, Marilyns, Judas ... O rock é cênico, é teatral, toca-se comendo as cordas e alguns pobres morcegos. O rock é feito de caveiras, armas, mas também rosas. É dizer aos quatro cantos do mundo “Eu quero morrer quando ficar velho” e também sentir o orgulho de ser um dinossauro do rock.

As melodias viscerais embalam as cabeças e suas guitarras imaginárias. Os amantes do rock “querem satisfação”, sempre será isso, seja geração 60, 70, 80 ou geração Coca-Cola. MP3,CD ou vinil. 78, 45, qualquer RPM, desde que seja rock n´roll, se não for, é Ultraje.E quem luta contra o rock, pode esquecer. O rock não morreu e não morrerá. Então ouça, sinta, vibre e chegue ao nirvana. O rock cometeu seus excessos, mas como regra mantenha somente o do volume. E como dizia um querido amigo “Não importa  se é em javanês tem que ser rock n’ roll”.

É fácil vestir a camisa do rock, pode ser somente preta ou preta com qualquer letra, um A, um C, um D, um C, ou melhor, o alfabeto todo. Como diria o grande Celso “Aumenta que isso aí é Rock n’ Roll”!

                                                                                                                 Por Robson Perez

domingo, 11 de julho de 2010

A cultura do sucesso



Através de diferentes tipos de mídia e meios de comunicação tenho percebido como de forma contundente e invasiva, temos sido subjugados. Super mulheres vendendo produtos que prometem plena tomada de poder e sedução. Homens que para mostrar que chegaram a algum lugar precisam adquirir bólidos de luxo (mais uma vez a premissa de que o carro é extensão de seu falo). A literatura não é exceção. Livros de auto ajuda com títulos que sugerem a receita da felicidade plena “Fique rico ou morra tentando”, “Os 1000 passos para a felicidade”, “Como ficar bonito(a) em 10 passos”,”Só é pobre quem quer” e coisas do gênero. A realidade é que está sendo vendido a felicidade feito macarrão instantâneo, isto é, em três minutos pode-se adequar ao estilo comercial de perfeição.


Envelhecer então é algo pejorativo, não que eu seja contra o cuidado pessoal, mas será que esse cuidado também é empregado na área sentimental? Será que há comerciais vendendo tolerância, respeito? Nem mesmo as crianças saem incólumes nessa profusão equivocada de perfeição e inserção ao mundo ideal. Havia um comercial com uma apresentadora de programa infantil muito famosa, que mostrava ela jogando as sandálias que não tinham sua logomarca no lixo assim induzindo as incautas crianças a fazer o mesmo.

Sim, o mundo pode ter fantasias

Não estou sendo rabugento, claro que devemos sonhar e agir para que isso aconteça, sempre respeitando a lei suprema de amar e nos amarmos. Graças à Deus nossas realidades são singulares, você tem sua beleza diferente (mesmo que seja a interna, então cuide dela), você não chegou ao cargo de presidente? Não tem a forma física da Bünchen? Tampouco uma bolsa com letras garrrafais como logo e insígnea que lhe dará acessos ao mundo da ostentação? Bem, certamente deve ter algo cujo os seus pais amigos ou avós lhe deixaram como legado. Uma receita de bolo que todos amam e você passará adiante, a habilidade de contar histórias, a de pedir licença, de dizer, por favor e obrigado, a de chorar com quem precisa, rir e fazer rir, de ceder seu lugar a um idoso, etc...Ser feliz é um estado de espírito do qual não se pode enlatar ou envazar para venda, somente por estado de graça é possível passá-lo adiante.

5 coisas imprescindíveis para ser feliz.
• Sorria ( mesmo que não tenha motivos, mas certamente os tem, reveja.)
• Diga o quanto ama ou aprecia algo ou alguém
• Abrace (mas abrace apertado, com vontade mesmo)
• Beije (seja um beijo de ternura na testa, seja o de um selinho delicado ou um beijo molhado e intenso com arroubo de paixão, mas beije)
• Ignore as listas

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O Curioso caso de Felipe Melo



Fiquei conjeturando com meus botões após ver o empenho estúpido de alguns brasileiros ao encontro do tão enxovalhado Felipe Melo. Palavras de ordem contra o jogador dando a ele única e exclusivamente a responsabilidade da derrota da seleção brasileira. Nas ruas os comentários ferinos da deslealdade do jogador e coisa do gênero.

Pois bem, aqui vou eu em defesa do pobre diabo. É lamentável ver que a nação só se comove com coisas sem a mínima importância, como se empenha em tarefas sórdidas como votar no BBB, enquanto na hora de decidir quem toca essa carroça chamada Brasil faz corpo mole para votar. Simplesmente somos cento e noventa milhões de Dungas escalando governantes débeis e inúteis. Bem, aposto que você sabe qual era a formação da seleção de 82, mas não lembra em quem votou para deputado, não é? Ou como escrutínio tenha catado o “santinho” (santinho é boa, não?). A balbúrdia e a desonestidade dos que governam esse país do quais meus avós já ouviam ser do futuro rolam soltas sem criar nem uma espécie de movimento. Raro os momentos que um cidadão vai ao aeroporto vaiar um maldito deputado ou coisas do gênero, que impedem projetos que seriam benéficos ao povo brasileiro, fazendo disso um gol contra. Pior ainda, políticos que usam a máquina estatal para rechear cuecas de dólares, para mim é o mesmo pisão na coxa de que valera a expulsão de Felipe.
Desculpem se esse assunto parece redundante, mas essa carniça política que vem causando um cheiro nauseabundo está insuportável, pelo menos para mim. E com certeza o futebol é o ópio do povo. Ah esqueci! Está chegando carnaval.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Melhor Idade




Já não sinto força nos pulmões para apagar aquelas velas chafurdadas no bolo árido, regado a granulados—Droga! Sempre lembro de cocos de rato—Tampouco tenho saco para agüentar os trocadilhos débeis e óbvios dos meus amigos, que dizem:
—Fazendo sessenta e nove, hein? Tá na melhor idade!
Claro que é melhor idade, não tem outra.

 Eu sou assim mesmo. Agridoce. O humor ácido mesclado a um sentimentalismo barato. Se bem que ultimamente tenho andado azedo. Perdi o encanto pela humanidade, embora aprecie suas obras. Não é a toa que no livro de Gênesis diz que Deus criou o homem sua imagem e semelhança e logo depois se arrepende da sua criação fazendo um grande ensopado. Mas o divino é muito temperamental mesmo, Nota-se pela criação ornitorrinco.

Bem... Minha vida já não é mais a mesma desde que Marie partiu. Meus únicos companheiros são o Dr. House, que assisto fielmente acompanhado de Jack, Jack Daniels— esse sim à medida que envelhece fica melhor. Algumas fotografias ornam a sala, onde os imbecis que estão a me homenagear distribuem digitais e comentários sobre elas. Ás vezes sento-me à escrivaninha em busca de alguma história e martelo minha Ollivetti Lettera verde presenteada por Marie há uns trinta anos, apesar de ter um lap top.  Normal essa rabugice nostálgica na minha idade. E falando em presentes chego a suar frio imaginando os presentes bizarros que virão. Meias beges e marrons, controle remoto universal com números gigantes, ou algumas dessas ferramentas idiotas anunciadas na TV que prometem trocar o filtro de óleo do motor, bater uma vitamina e abrir uma garrafa de vinho. Fala sério...

Todos na minha festa parecem se divertir, menos eu. Os assuntos em pauta não são em nada atrativos para mim, pontes de safena, remédios tarja preta e uma enciclopédia de A à Z de doenças e claro, com o advento da pílula azul, uma enxurrada de mentiras de cunho sexual. Nessas horas até que me cairia bem um Mal de Alzheimer. Contudo é bom ver a infantilidade senil dessas figuras que compõe meu cotidiano. É uma jazida de besteirol da vida para fomentar alguma escrita esdrúxula e fatídica na ausência de criatividade. No fundo eu gosto. Não dou o braço à torcer para sustentar essa minha distimia crônica; me torna caricatura de mim mesmo.

Bem...chega de elucubrações patéticas e divagações filosóficas. Foi só para eu tomar um fôlego e voltar às velas.

—Aha, uhu, o Vicente eu vou comer seu bolo!

quarta-feira, 23 de junho de 2010


Responsabilidade social

Nunca se ouviu falar tanto nesse termo. Já ganhou o glossário dos administradores de empresa, tornou-se objeto de estudos da seara empresarial. O benefício é obvio, desde recuperação do meio ambiente implantando a sustentabilidade. Os projetos são dos mais variados formatos, desde geração de empregos à ex detentos, creche para funcionários, educação pela iniciativa da própria empresa, etc. Tudo bem, sabemos que nenhuma boa ação fica impune, ajuda muito na dedução tributária, sem contar que agrega valores intangíveis ao nome da empresa. Porém, é melhor recebermos da iniciativa privada, que é bem mais confiável do que a estatal, da qual somos órfãos.



Diante das inegáveis ações benevolentes relativa à responsabilidade social, existe uma lacuna em especial à ser preenchida. A empregabilidade responsável. Ao chegar em uma entrevista, passar por uma sabatina excruciante, o empregador inquire o pretendente sobre a existência de restrições nas instituições financeiras, mesmo sabendo da ilegalidade que este ato constitui. Ora! Se o sujeito encontra-se desempregado, circunstancialmente ele pode passar por um abalo econômico em sua vida pessoal que o impeça do cumprimento de suas obrigações. Isto é, após centenários da história do Brasil, a famosa expressão “nome sujo na praça” ainda se faz presente nos dias atuais. Essa alcunha foi dada aos cidadãos que tinham pendências com a justiça, mais precisamente na Praça XV no Rio de Janeiro, onde os procurados tinham seus nomes fixados na praça.

Então surgem perguntas para o mundo corporativo. Onde está a responsabilidade social? Como o trabalhador poderá saldar sua dívida estando ele fora do mercado? Isso caracterizaria assédio moral? Há esperança para este cidadão?

Por enquanto não vejo nem um manifesto oriundo de projetos de responsabilidade social que integrem excluídos moralmente. O que sabemos, sim, é que existe um processo velado nas contratações, que rejeitam pessoas que moram em áreas consideradas perigosas, a recusa dos que não possuem boa aparência (que de forma sorrateira lhe dirão que você não se enquadra no perfil pedido) o tatuado que ainda carrega estigmas prosaicos de pertencer a facções criminosas e infindáveis critérios de contratação baseados em culturas obsoletas e ultrapassadas que são incompatíveis aos dias atuais. O esperado é que apareçam oportunidades para todos os cidadãos, independente de credo, cor e etnia a fim de equilibrar o quadro de desigualdade social premente na vida dos brasileiros. Responsabilidade social é a empresa pensar como pessoa física. Os elementos que compõe a empresa são constituídos de pessoas comuns que um dia procuraram o ingresso no mercado de trabalho, exatamente como estas que passam pelo crivo corporativo em busca não só da sobrevivência como por um mínimo de dignidade.


                                                                                   Por Robson Perez

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A vida em um comercial de margarina



Sou fã incondicional de comerciais. Publicidade sempre foi uma paixão que cultivei. Comerciais criativos que às vezes nadas têm a haver com o produto, um bom exemplo é o do “cachorro-peixe” de uma fabricante de automóveis. Tão estranho quanto o animal era o seu dono. Estranho porque ele era como nós. Um cara que passa por aí e você nem vai notar. Na verdade houve sensibilidade em representar um ser humano normal.

Bem. O que quero dizer é que na maioria das vezes é veiculado um estilo de vida em que você é perfeito não tem aborrecimentos, não envelhece, sua barriga é um tanquinho, as mulheres são sempre bem humoradas. — Gostaria de viver por uma manhã um comercial de margarina. — Acordar em um ambiente estéril vestido de branco, ver meu querido filho comportado comendo feito um membro da família real britânica, tamanho os modos à mesa. Minha esposa em exatas sete horas da manhã sorrindo ao me servir o café, após uma noite breve de sono e completando a cena, vem minha filha de dezenove anos feliz da vida, mesmo estando no período, pois o remédio para cólicas e o absorvente a alivia e dá o conforto que ela precisa. Então saio e pego meu carro, cujo me põe no patamar dos homens bem sucedidos e desejados.

Cansaram? Vou explicar o motivo de tanto rancor. Sinto que querem nos vender a vida perfeita onde ter rugas, cabelos brancos, cabelos crespos, a falta de cabelo, estar acima do peso, e ter um carro com mais de cinco anos uso, constam nas escrituras sagradas como pecado imperdoável. Não há espaço para imperfeições. Somos encaminhados para uma sociedade para agirmos feito autômatos. Deprimente, não? Mas não tem problema, já existe a pílula da felicidade. Há comércio para tudo. Chegamos há um ponto que até o único recôndito não devassado de uma prostituta entrou na lista dos negócios. Dizia assim em negrito no anúncio de um jornal: Beijo na boca sem frescura. —Pobre Julia Roberts! Vão olhar o filme Pretty Woman e dizer o quão antiquado se tornou. — Isto é, só me deixará estarrecido se algum dia anunciarem que venderão caráter e honestidade em saquinhos escritos: INSTANTÂNEOS. Aí você já sabe...corre o risco do produto encalhar.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

In Memorian




Foi uma separação dolorosa. Diferente. Não havia ainda degustado esse tipo de perda. Não foi morte natural, talvez já estivesse moribunda. Posso eu ter negado os cuidados necessários.Até mesmo meu jeito relapso e inconseqüente, não sei. O que dói mais é não ter consciência do motivo do óbito. . Bem...mas esta é a primeira vez que perco um amigo em vida.Como todos, sigo meu caminho, pois tenho em minha vida pessoas muitíssimo preciosas a quem devo cuidar.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

É coisa para gringo não ver


Sou amante da cidade maravilhosa. Há exatos vinte e quatro anos, me instalei no bairro da Ilha do Governador. Toda vez que cruzo a ponte tenho a sensação de estar chegando em casa. O Rio é assim, um jeito provinciano. O Zé da padaria sabe como gosto do meu café com leite. Bem escuro, o leite é só para dar uma cor. De todos os lugares que morei não me lembro de uma visão tão encantadora como a da Baía da Guanabara. O sol surgindo por trás das montanhas refletindo alegria sobre nós ou vice-versa.
 
 O jeito pilhério e espirituoso estampado no rosto de cada nativo seja ele carioca do Rio grande do Norte ou de Belém do Pará, até mesmo de Portugal. Ser carioca não é um acontecimento geográfico, é um estilo de vida. É se aglomerar na banca de jornal em disputa por uma leitura parcial dos noticiários. Nas areias da princesinha do mar, plebe e realeza são uma só casta. É meu Rio, que de janeiro à dezembro é a verve de muitos poetas.

Entretanto, nem só de lirismo a capital fluminense se retrata. Existe o lado manchado dessa história à custa de sangue inocente. Balas perdidas que transfixam na vida dos ocupantes dessa nave. O caos e a dor de quem não têm onde morar, que ao contrário de Brasília, não houve planejamento e o progresso se resume cinco anos em cinqüenta. Cidadãos tratados como lixo e devidamente alocados em um aterro sanitário para chamar de lar. São os sócios da Miséria S/A, que não tem filiação na identidade de cidadão carioca.

Estava à caminho da faculdade pela via expressa Linha Vermelha que corta a favela da Maré. Ao longo da via foram colocados nas grades que delimitam a comunidade, placas de metal. Possuem uma geometria sinuosa que dá um forte apelo estético, entretanto é tácito o lado funcional. —Ocultar o contraste social— Não é possível ver a favela através desse material. É mais uma tentativa de jogar o lixo de baixo do tapete. Ali é o lar de vários despatriados que vivem em seu próprio país. Berço de quem não conhece seus direitos nem deveres. Ouvia-se sobre a existência de um estado paralelo, só que ainda não tínhamos nada que indicasse essa divisa.

  Neste inferno de Dante somente os Campos Elíseos têm espaço. Resta saber até quando manteremos essas plaquetas de belo design arquitetônico em nossos olhos.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Amor, sonhado amor.

Madeleine era uma mulher de meia idade. Suas madeixas louras brilhavam ao sol com a mesma intensidade de sua paixão. Tinha o rosto afilado assim como seu nariz, apesar de fazê-la parecer esnobe, possuía um jeito acolhedor Os olhos de esmeralda eram seu cartão postal, o que ás vezes a incomodava por achar que ninguém reparava nos seus outros atributos. Mas de todos seus predicados o que ela mais gostava era o fato de se manter romântica; incorrigível, diga-se de passagem. Citava Drummond e Fernando Pessoa com a simplicidade de um caminhar. Como companheiros, um bloco de notas e caneta, onde registrava seus melosos poemas.

No entanto, Madeleine ainda não havia encontrado o amor. Os homens com os quais se relacionara, eram superficiais, só sentiam mera atração física. A exibiam como um animal doméstico. Uma vez presenteara Roberto com um de seus poemas que resultou em um agradecimento monossilábico: — Legal! Disse ele. Acontecimentos como esses levara Madeleine ao Ades das emoções—A depressão. Seu armário exibia uma vasta coleção medicamentosa. A cura interna de que ela tanto buscava era distante. O amor que lhe salvaria, parecia ainda mais.

Certa noite, quando a insônia a torturava e resolveu caminhar e escrever um pouco. Sentou-se numa praça da qual trazia boas recordações, palco de alguns amores efêmeros. E aos prantos fora lembrando da sordidez de seus relacionamentos. Não sabia o que lhe faltava para algo duradouro, ou melhor, eterno. Sentiu um nó nas entranhas e afastando-se dalí, correndo para o aconchego de seu lar.

Como de costume colocava seu bloco de notas sobre o criado-mudo, dizia que os poetas sussurravam em seus ouvidos enquanto sonhava e os anotava ao acordar. Então percebeu que o havia esquecido tamanha era sua dor. Correu desenfreadamente em busca de seu tesouro, e lá viu que um homem que sentado no banco olhava para o céu como se contasse estrelas. Até que ela o abordou:
—Estou procurando algo que me pertence.
—Boa noite! Eu também. Disse o homem de forma gentil.
—Desculpe! Boa noite!
Madeleine com um certo desconforto falou:
—Procuro um bloco de notas.
—Se você não se importar...Sobre o quê?
Era possível notar o embaraço pelo rubor da face de Madeleine, mesmo naquela penumbra.
—Bem. Acaso o senhor o viu?
—Se for o amor ele se encontra bem aqui. Disse o homem com um sorriso e enfiando a mão por dentro do paletó.
—Senhor, se quer sei seu nome e você debocha usando de lirismo. Mostrando-se irritada.
—Marcel é o meu nome, Igual ao do Proust. E a propósito o que está aqui no meu peito é o seu bloco e só o que vejo aqui são poemas de amor. Muito belos por sinal. Bem...eu acho que também encontrei algo e espero que corresponda ao que você achou.
E entregou o bloco de notas tocando nas mãos de Madeleine que estampava um sorriso franco. Um sorriso de quem achou o que queria.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A mais bela hitória de amor

Doralice, ou Dona Dora como a chamavam. Já avançava seus sessenta anos, ainda assim mantinha o seu charme. Seus cabelos curtos e prateados combinavam com seu rosto doce que estampava um sorriso juvenil. Vestia-se muito bem, alta e esguia, exibia o caminhar de uma lady. Estava ali no aeroporto esperando o vôo ansiosamente. Sentou-se e abriu sua bolsa, da qual tirou um livro com uma coloração esmaecida, algumas folhas estavam soltas. Dora com toda elegância recostou na cadeira cruzando as pernas de maneira que pudesse ler o livro sem perder a postura monarca.

Passou algumas páginas, e vez ou outra olha as horas no Cartier que ostentava com orgulho, não pelo o fato de ser um renomado relógio, mas porque herdara de sua mãe, mulher que fora referência em sua vida.

—Meu Deus as horas não passam! Exclamou um pouco impaciente.

Só havia uma cadeira desocupada ao seu lado no qual uma jovem aproximadamente de uns vinte anos sentou-se.

—Com licença. Disse a garota.
Dora estava compenetrada na leitura enquanto uma leve curiosidade fez com que a jovem mulher levantasse a cabeça por cima dos ombros de Dora para ver o que ela lia.

Paciente Dora puxou assunto:

—Gosta de romances?

—Gosto sim, ah, a propósito meu nome Carla.

—Prazer Carla. Estou relendo a melhor história de amor que já li. Percebí seu interesse. Posso ler alguns trechos interessantes se você não achar piegas, ou como vocês dizem, careta?
Com um sorriso descomprometido Carla assentiu que sim.
—Vamos lá, querida. Joahan era um soldado alemão que na segunda guerra desertou por discordar das atrocidades cometidas pelo III Reich, para não ser executado vergonhosamente como traidor fugiu para Porto Alegre.
—Que legal! Bem aqui. Disse Carla.

—Sim. Chegando aqui Joahan encontrava-se totalmente desorientado, não dominava a língua o que só piorava a situação. Numa tarde de verão uma moça tomava sorvete quando ele a abordou falando: —Schokoladeneis! Apontando num gesto meio bobo.
A jovem riu, mas compreendeu o que ele dizia, pois era de descendência alemã e seus pais mantinham a cultura.

—Sorvete de chocolate. Falou ela rindo e ao mesmo tempo encantada com o rapaz.
—Acho que vou ter que encurtar a querida, o meu vôo esta chegando. Dora avisou interrompendo a história.
Deixe -me continuar... Liebe, que quer dizer, querida em alemão, era como ele a chamava, se apaixonou por Joahan. E como num piscar de olhos se passaram três anos. Tinham planos para casar, ter filhos essas coisas até que um dia,Liebe esperava Joahan voltar da escola onde ele ensinava alemão. Mas nada.

Soube através dos locais que Joahan havia sido deportado e responderia por deserção na corte. Felizmente mais tarde, soube que ele fora absolvido, mas não livre da pena de poder deixar seu país. E Liebe disse que se não fosse Joahan não seria mais ninguém e nunca mais encontrou outro amor.
—Triste demais. Disse carla.

—Mas eu sempre acreditei em final feliz, querida!

—Liebe! Liebe! Gritava um senhor do outro lado do saguão. Dora então se levanta e vai de encontro ao seu amado uma espera que parecia eterna. Enquanto isso Carla pegou o livro deixado ali na cadeira, que estava escrito na capa: Meu diário.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Musa inspiradora




Ela estava deitada envolta aos lençóis brancos entrelaçado em suas pernas bem torneadas e cobertas por uma leve penugem dourada, uma cena digna de um Monet. Colado ao rosto estava suas mãos, como em sinal de prece. E pode apostar os anjos dormiam com ela. Um pequeno cordão com a inicial de seu nome adornava seu pescoço longilíneo, que combinava com as pequenas sardas espalhadas em seus ombros.

Eu só conseguia admirá-la. Tamanha serenidade espalhada pela cama, tendo eu a pouco desfrutado de sua fúria, e pelas marcas no meu corpo essa lembrança se estenderá por alguns dias. Sentei-me à minha escrivaninha, que ficava de frente para minha cama. Usando da comparação, um apartamento de frente para o mar. Poderia simplesmente contemplar, ou usá-la como objeto de mais um dos meus textos.
 
Comecei a digitar suavemente para não acordá-la, queria congelar aquela cena. E como um anatomista, descrevia cada parte de seu corpo, pude descobrir coisas que no calor das emoções passaram ligeiramente. Já se foram duas páginas só de descritiva dos atributos daquela mulher. Um tédio para os leitores. Um orgasmo literário para mim.

O sol  já dava o sinal de sua graça atravessando minha janela, e emoldurava minha musa criando uma espécie de aurora boreal, Nunca em toda minha vida solitária e misantropa, me senti tão bem acompanhado. O astro rei agora  lhe dá boas vindas mais uma vez convidando-a a mais um dia.

—Bom dia disse “P”:
—Bom dia! Respondi com um ar penoso.
—O que você está fazendo? Perguntou ela enquanto se vestia.
—Descrevendo você.
—Mas isso não estava no combinado. Vou cobrar mais cinqüenta reais.
—Tudo bem. Você vai estar disponível quarta-feira? É que não terminei ainda o segundo capítulo.
—Me liga e a gente vê. Mas já sabe né, vou cobrar a mais por isso.
Então “P”,Patrícia, Penélope, Paloma sei lá, deixa em branco mais algumas páginas...da minha vida.

domingo, 25 de abril de 2010

Muita sacanagem e pouco sexo



O perfume cítrico pairava no ar junto com as ondas sonoras da autoria de Tellonius Monk. Perfeita simbiose. Ela vestia apenas uma camisola que transparecia seus atributos. Eu me encontrava ali, sentado frente ao computador na tentativa de achar um bom conto, para que feito uma criança órfã eu achasse meus pais, no caso, meus leitores—Pura egolatria!

Fingi não notar os intentos da minha amada, o que não impediu sua investida por um sexo caloroso e eu claro, ainda estava nas preliminares; do meu conto. Meus dedos percorriam o teclado provocando uma sensação de prazer incrível. Imaginava que em pouco pudesse jorrar idéias incessantes. Por trás ela olhava com uma expressão...diríamos: de puta. Porém de raiva ! Afinal diante de tantos comportamentos bizarros e prazerosos, ser “voyeuer” de pretenso escritor não excita em nada.

Queria muito que fosse breve. —Por favor, meu conto tá—. Mas nada, não conseguia chegar lá. Fui tomado de uma agonia e ela de fúria. Já havia bebido desta água e sabia que ao ter meus contos lidos me proporcionariam imensas ondas de prazer. Até que descobri um jeito sórdido para esse dilema fosse resolvido, de modo que satisfizesse os dois. Apaguei o que estava escrevendo e fiz este texto dando um título lascivo e pervertido onde boa parte iria querer adentrar...

...simplesmente a mais pura sacanagem. E com ela. Bem. Isso é outra história.


sexta-feira, 23 de abril de 2010

Esperando pelo amor


Está tarde, me distraio com alguns programas na televisão. Olho novamente para o relógio que parece não se mover. Levanto-me e abro a janela, e de modo fugaz imagino ela a qualquer instante chegando, com seu jeito radiante e pouco discreto é impossível não notá-la. Seus poros exalam sensualidade, um convite aos seus natos encantos.

Mas ainda nem sinal dela, a cama ainda está vazia, incompleta. Somente o cheiro adocicado se mantém impresso nos lençóis e travesseiros. No criado-mudo algumas jóias que esperam ser adornadas por ela, tanto quanto eu. Quero sentir seus braços envolver meu pescoço. Trançar suas pernas na minha ou poder abraçá-la junto ao meu peito até que ela adormeça.

Giro o punho quase instintivamente e vejo que não se passaram mais que quinze minutos. Estou tenso, irritado e impaciente. A ausência dela deixa mais que um espaço em casa, deixa uma lacuna na alma. Quero me acalmar naquele sorriso acalentador, que me deixou adicto, totalmente dependente. Jamais imaginei achar a paz interior, no interior de outro ser.

E os palitinhos numéricos que dão forma no relógio digital saltam transformando num três, num oito...Avançando as horas e tudo que eu espero é a hora de ser feliz feito um garoto na véspera de natal aguardando pelo presente. Mantenho-me vigilante na porta, olho para o chão, para as plantas e para os céus que num gesto pueril faço meu pedido a uma estrela cadente. Meio desesperançoso na verdade, ainda assim acompanho na descendente o rastro luminoso que aponta em direção... Sim isso mesmo do amor da minha vida

...e o tempo agora parou.

                                                                                    Por Robson Perez

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Terremotos Emocionais

Tento me livrar de metáforas e linguagens figuradas, mas é assim que se formam as idéias na minha cabeça e não seria diferente agora. Estive compartilhando os paradigmas do espírito, do nosso interior, nada freudiano ou coisa do gênero, somente as agruras normais que nos habitam, com uma amiga da qual muito estimo. Daí imaginei (como essas crianças que se põe a criar figuras nas nuvens) que existem fenômenos parecidos com os geológicos dentro de nós. O objeto da discussão me remeteu a um terremoto.

Nunca esperamos que aconteça, mesmo dando sinais, e de modo catastrófico vemos tudo aquilo que estava em ordem ruir abaixo. Sentimentos que com um trabalho hercúleo construímos agora são nada mais que escombros, fragmentos de uma vida espalhados como peças de quebra-cabeça. As colunas do amor agora não passam de cacos e o que outrora fora uma sustentação tornou-se um peso, nada mais que blocos pesados de mágoas causando-nos dores lancinantes. Em um gesto desesperado nos atiramos em busca de vida, compaixão, compreensão. Qualquer sentimento que nos dê esperanças de sairmos e recomeçar.

Esperamos por socorro. Alguém que nos ouça, que nos estenda a mão. Um filete de luz na penumbra do nosso interior. Quando saímos, olhamos para o entulho de sentimentos de que fomos resgatados e custamos a acreditar que sobrevivemos. Tudo o que queremos agora é reconstruir. Essa é a lei. Curar nossas feridas. Ajudar outros a se curarem e certamente veremos as colunas se reerguerem.

Robson Perez

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Senhor de todos os sortilégios.

Ultimamente ao me enveredar na seara da escrita, em especial as crônicas, fui tomado de uma arrogância ao achar que poderia escrever qualquer coisa. Quase uma síndrome “Caetanesca”, isso mesmo, de Caetano Veloso; ou intimamente: Caê. Ele faz parecer que pode discutir de física quântica a insumos para a adubação e fertilização de terras. Parece ter todas as respostas para o problema da humanidade e se duvidar, também para os dos extras terrestres.

Mas antes que eu seja crucificado pelos seguidores do messianismo de Caê. O objeto do texto ainda sou eu. Tenho escrito como se fosse detentor de todo o conhecimento. Há quem leia e diga que soa empírico, isto é, de minha própria vivência. Claro que algumas sim. Algumas oriundas de “causos” alheios - Estas por sinal, muito mais interessantes - No entanto, especular e dissertar sobre o que nos circunda faz parte do imaginário. Usar algumas idéias no tom de provocação só para ver a reação dos leitores, coisa de que não tem o que fazer mesmo, ou o que escrever.

Para se ter uma idéia, achei até que entendia do universo feminino, mais complexo do que a resposta para as perguntas: De onde viemos e para onde vamos? Pior ainda, cometi a blasfêmia de achar que eu era Ele, o todo-poderoso, Senhor dos mistérios femininos. O magnânimo Chico Buarque - Acredito que ele tenha até TPM. - Bem, sinto que tenho que mudar de assunto e achar temas frugais do qual o leitor (se é que eu tenho algum) sinta-se interessado... Opa! Tive um insight! Vou pegar carona nas ideologias do Bono Vox, talvez me renda assunto para escrever, algo como preservar a fauna do planeta Pandora e a extinção do gato-preto-albino.

Imperador Adriano e o pênalti perdido

Como é sabido, Adriano imperador tem sido vítima de boatos e histórias infundadas. Rompantes de sua vida amorosa que assombram até mesmo campo adentro. Um dos falaciosos casos envolve sua noiva, ex noiva ou ex ex-noiva Joana Machado,que de maneira árdua vem tentando podar o lendário atacante, famoso por suas enfiadas de bola e ponta firme no quesito corpo-a-corpo.

Protagonista de um caso complexo, o do Alemão, ele mostrou ainda ser humilde não abandonando os barracos. Sua noiva, ex, ou sei lá o que, soube que parte do elenco rubro-negro encontrava-se reunido comemorando ainda o hexa-campeonato. Enfurecida Joana foi até o morro onde pegou uma moto-táxi, que fora comprada por seu noivo e presenteada para a avó de seu amigo, Dona Etelvina, cuja se encontra profundamente grata, pois não agüentava mais subir todas aquelas escadarias.

No momento em que Joana chegou Adriano administrava sua carreira, ao som de muito funk carioca, logo percebeu que gritar e tocar campainha não daria resultados, surgindo aí a idéia de lançar alguns pedregulhos nos bólidos ali estacionados para que soassem os alarmes, e pela primeira vez o goleiro Bruno se viu diante de algo indefensável. Pôde-se dizer que mesmo sem chuvas a casa caiu, ou melhor, o barraco.

Não obstante, outra polêmica se fez em plena decisão da taça Rio. Foi ouvida uma escalação. A de Joana Machado para uma revista masculina, que contou com o apoio da torcida maior que a do Flamengo e Coríntians juntas. Segundo os mais próximos de Adriano, como os moradores, Escadão e Pedrinho da Sevê, ele teria oferecido dois milhões para que ela não revelasse a grande área. Negociação que só se encerrou com a contra proposta de Joana, que se dizendo alvinegra, pediu a ele que errasse o pênalti contra o Botafogo, afinal coração de vagabundo bate na sola do pé. O César do futebol sob pena de se tornar uma estrela solitária e ver sua amada com outro Love, passou a bola para Jeffersons O impiedosus... Mas isso é só produto de boataria.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Vamos ao ponto

(Aos caros amigos)

Mas por que diabos esse ponto G é tão importante? Posso imaginar nos camelódromos a venda do mapa do tesouro: _Olha o caminho do ponto G, aqui na minha mão é mais barato!Sôfrego o incauto chega à sua parceira e pede que ela fique em posição ginecológica feito um carro de capô aberto e se desventura a achá-lo como um fusível no recôndito mais improvável (consegue imaginar a cena?).

Pois é. Não acredito que nem a mulher mais lasciva em busca de orgasmos múltiplos quase catárticos se propõe a ficar sendo explorada de maneira mecanizada para descobrir o maldito ponto G. Existe um alfabeto de pontos espalhados nessa cartilha dadivosa chamada mulher. Ahh!Não sabe ler?Aí um bom motivo para que ela possa lhe ensinar o B a BÁ da coisa, e o melhor, você não precisa iniciar por ordem alfabética. Comece de trás pra frente e de frente pra trás, pode até dar uma amassadinha que ela não vai te punir por isso.

Leia-a em braile

Gostou da idéia?Então mãos á obra. Faz parte da descoberta caros amigos. Leia pausadamente respeitando cada vírgula do corpo dela. Não entendeu?Volte tudo. Agora que sua fluência está aumentando (sem ambigüidades), parta para a prova oral e desenhe nela com o órgão que você mais usa... (não,não isso que você pensou,é a língua) e treine sua caligrafia fazendo todas as letras e números no seu objeto de desejo. Depois de chegarem onde queriam certamente esse lugar é o ponto. Não é o G e nem o final, mas dependendo de como foi pode rolar um reticência.

Robson Perez

domingo, 18 de abril de 2010

Quebrando as regras.

Venho me dedicando a escrita mais do que deveria. Talvez seja uma maneira de diminuir os lucros da indústria farmacêutica das quais eu vinha fomentando, já que minhas noites insones e algumas tardes domicais tediosas se tornaram uma motivação para esse “hobby”. (Ops! Não pode estrangeirismo né?) Porém, entretanto, todavia não tenho um envolvimento muito intimo com o português. O mais perto que eu cheguei disso, foi um caloroso bom dia ao Manoel, grande amigo lusitano.

Leio desde os cinco anos de idade e tive o orgulho de ser alfabetizado pela minha mãe _ela não agüentava mais eu pedir que ela lesse todas as placas na rua. Isso em muito me ajudou, viajava nas Aventuras de Gulliver, O Pequeno Príncipe e quase toda a coleção Vaga-lume. Quem não se lembra do Escaravelho do Diabo? Isso mesmo aquele dos ruivos. Mas isso não quer dizer que se você me perguntar sobre as benditas regras gramaticais saberei respondê-las, bom e se o fizer serei um sujeito oculto.

Escrever alguns parágrafos já tinha se tornado habitual até que uma professora fez a física quântica soar brincadeira perto da língua portuguesa. Quando ela pedia que escrevêssemos uma sentença parecia, pelo menos para mim, de morte. Lembro quando um camarada levou o parágrafo para que ela corrigisse e emendou com um motivador: __Olha está tudo correto. Mas é um textozinho sem personalidade hein! E eu que não sei o porquê, seja ele junto separado ou acentuado, me amedrontei. Após o ocorrido os objetos do meu texto, diretos ou indiretos, sumiram. Achei que eu não tinha predicados suficientes para arte literária. Para se ter uma idéia, toda vez que eu queria saber onde por a vírgula eu fazia aquelas pausas de respiração. Quem olhava não sabia se estava fazendo ioga ou escrevendo.

O fato é que mesmo sem entender uma vírgula voltei a escrever. E sem a pretensão de ser mais-que-perfeito. Que se dane! Não vou deixar nenhum travessão no meu caminho. Tomo para mim a licença poética, como O grande Chico Buarque, que rima futebol com rock and roll, e também: __ se tô triste peço um copo tô alegre ma non troppo... Ainda assim ele continua sendo ovacionado como “O poeta”. E o que falar do brilhantismo de Macunaíma, de Mário de Andrade? Pois é, termino aqui esse desabafo que foi muito terapêutico para mim e sem desembolsar um real. Bem... Tá na hora de dar um ponto final nisso.

Robson Perez

terça-feira, 13 de abril de 2010

Uma Ode as Paixões



Perdemos dias atrás o grande colunista Armando Nogueira, um craque com as palavras. O futebol nunca mais será o mesmo. Um verdadeiro armador no campo literário. Escrevia com a habilidade de um Garrincha, e ao lermos vibrávamos socando o ar feito Pelé. Seus dribles escritos eram simplesmente encantadores.

Com Nogueira, dar uma “caneta” passava a ter mais um significado. E eu que até então nunca tive atração pelo futebol, talvez por não conseguir entender a equação: 11+11+bola contido em retângulo = Paixão mais infinita (seja pela esquerda ou pela direita). Havia certo desdém da minha parte, no fundo eu queria mesmo era sentir a emoção dos demais. Até que meu melhor amigo, Carlos Gustavo R.Cruz, Me levou ao estádio jornalista Mário Filho, o Maracanã, mas essa história renderá assunto para um próximo texto, e o outro responsável, bem...
.
...Cresci, casei, tive filhos, não necessariamente nesta ordem. O último rebento: Um homem. Com isso todo aquele sonho de pai ensinando o filho a jogar bola e soltar pipa, foi cortado na mão com cerol de pó de ferro. Que legado eu deixaria a esse garoto? Nunca fui hábil com a “gorduchinha” de Osmar Santos para decepção de meu pai, afinal é o país do futebol. Não queria que ele se enveredasse no mundo melancólico solitário das artes.

Mas não sou eu quem faz as regras. E lá estava meu garoto. Criando raízes na seara futebolística. No Maraca, o garoto gritava palavras de ordem em uma postura quase marcial: _ Vai lá Léo! É pra ficar igual a você que eu treino todo dia! E com olhos rasos d’água assistia ali o mais puro manifesto de sentimento de paixão. E não se trata só pelo fato dele ser rubro-negro, se fosse cruz maltino, tricolor. Não faria a menor diferença. A alegria se manifesta em todas as cores.

Ah! Esse garoto. Fala com a propriedade de um Juca Kfouri e ás vezes com a petulância de um Jorge Cajurú. Irritava-me com sua opinião retórica, acrescentando: _Pai, na boa... Quer entender de futebol mais do que eu? E mais ainda quando se atrasava para colégio por estar comendo, e ao mesmo tempo assistindo aos programas de esportes vespertinos na TV. Sem esquecer de mencionar sua vasta coleção de bolas pela casa, e não foram poucos os desastres por elas causados . Porém confesso. O prazer de ver a ordem natural das coisas, pelo menos neste universo, se inverterem. Meu filho me ensina a cada dia amar o futebol, e claro, a ele mesmo. E isso sim é uma arte, que não é solitária e tampouco melaconcólica.

Como pais e filhos tão opostos podem harmonizar essa relação? O que faço é fintar nossas diferenças. Ponho para escanteio as dificuldades. Haverá problemas? Sim haverá. Mas isso a gente mata no peito. Se houver ânimos quentes, nos damos um cartão amarelo quantas vezes for preciso. E quanto ao placar? Vai dar sempre empate.
 
                                                Dedico ao Joshua, meu querido e amado filho.