sexta-feira, 30 de abril de 2010

Amor, sonhado amor.

Madeleine era uma mulher de meia idade. Suas madeixas louras brilhavam ao sol com a mesma intensidade de sua paixão. Tinha o rosto afilado assim como seu nariz, apesar de fazê-la parecer esnobe, possuía um jeito acolhedor Os olhos de esmeralda eram seu cartão postal, o que ás vezes a incomodava por achar que ninguém reparava nos seus outros atributos. Mas de todos seus predicados o que ela mais gostava era o fato de se manter romântica; incorrigível, diga-se de passagem. Citava Drummond e Fernando Pessoa com a simplicidade de um caminhar. Como companheiros, um bloco de notas e caneta, onde registrava seus melosos poemas.

No entanto, Madeleine ainda não havia encontrado o amor. Os homens com os quais se relacionara, eram superficiais, só sentiam mera atração física. A exibiam como um animal doméstico. Uma vez presenteara Roberto com um de seus poemas que resultou em um agradecimento monossilábico: — Legal! Disse ele. Acontecimentos como esses levara Madeleine ao Ades das emoções—A depressão. Seu armário exibia uma vasta coleção medicamentosa. A cura interna de que ela tanto buscava era distante. O amor que lhe salvaria, parecia ainda mais.

Certa noite, quando a insônia a torturava e resolveu caminhar e escrever um pouco. Sentou-se numa praça da qual trazia boas recordações, palco de alguns amores efêmeros. E aos prantos fora lembrando da sordidez de seus relacionamentos. Não sabia o que lhe faltava para algo duradouro, ou melhor, eterno. Sentiu um nó nas entranhas e afastando-se dalí, correndo para o aconchego de seu lar.

Como de costume colocava seu bloco de notas sobre o criado-mudo, dizia que os poetas sussurravam em seus ouvidos enquanto sonhava e os anotava ao acordar. Então percebeu que o havia esquecido tamanha era sua dor. Correu desenfreadamente em busca de seu tesouro, e lá viu que um homem que sentado no banco olhava para o céu como se contasse estrelas. Até que ela o abordou:
—Estou procurando algo que me pertence.
—Boa noite! Eu também. Disse o homem de forma gentil.
—Desculpe! Boa noite!
Madeleine com um certo desconforto falou:
—Procuro um bloco de notas.
—Se você não se importar...Sobre o quê?
Era possível notar o embaraço pelo rubor da face de Madeleine, mesmo naquela penumbra.
—Bem. Acaso o senhor o viu?
—Se for o amor ele se encontra bem aqui. Disse o homem com um sorriso e enfiando a mão por dentro do paletó.
—Senhor, se quer sei seu nome e você debocha usando de lirismo. Mostrando-se irritada.
—Marcel é o meu nome, Igual ao do Proust. E a propósito o que está aqui no meu peito é o seu bloco e só o que vejo aqui são poemas de amor. Muito belos por sinal. Bem...eu acho que também encontrei algo e espero que corresponda ao que você achou.
E entregou o bloco de notas tocando nas mãos de Madeleine que estampava um sorriso franco. Um sorriso de quem achou o que queria.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A mais bela hitória de amor

Doralice, ou Dona Dora como a chamavam. Já avançava seus sessenta anos, ainda assim mantinha o seu charme. Seus cabelos curtos e prateados combinavam com seu rosto doce que estampava um sorriso juvenil. Vestia-se muito bem, alta e esguia, exibia o caminhar de uma lady. Estava ali no aeroporto esperando o vôo ansiosamente. Sentou-se e abriu sua bolsa, da qual tirou um livro com uma coloração esmaecida, algumas folhas estavam soltas. Dora com toda elegância recostou na cadeira cruzando as pernas de maneira que pudesse ler o livro sem perder a postura monarca.

Passou algumas páginas, e vez ou outra olha as horas no Cartier que ostentava com orgulho, não pelo o fato de ser um renomado relógio, mas porque herdara de sua mãe, mulher que fora referência em sua vida.

—Meu Deus as horas não passam! Exclamou um pouco impaciente.

Só havia uma cadeira desocupada ao seu lado no qual uma jovem aproximadamente de uns vinte anos sentou-se.

—Com licença. Disse a garota.
Dora estava compenetrada na leitura enquanto uma leve curiosidade fez com que a jovem mulher levantasse a cabeça por cima dos ombros de Dora para ver o que ela lia.

Paciente Dora puxou assunto:

—Gosta de romances?

—Gosto sim, ah, a propósito meu nome Carla.

—Prazer Carla. Estou relendo a melhor história de amor que já li. Percebí seu interesse. Posso ler alguns trechos interessantes se você não achar piegas, ou como vocês dizem, careta?
Com um sorriso descomprometido Carla assentiu que sim.
—Vamos lá, querida. Joahan era um soldado alemão que na segunda guerra desertou por discordar das atrocidades cometidas pelo III Reich, para não ser executado vergonhosamente como traidor fugiu para Porto Alegre.
—Que legal! Bem aqui. Disse Carla.

—Sim. Chegando aqui Joahan encontrava-se totalmente desorientado, não dominava a língua o que só piorava a situação. Numa tarde de verão uma moça tomava sorvete quando ele a abordou falando: —Schokoladeneis! Apontando num gesto meio bobo.
A jovem riu, mas compreendeu o que ele dizia, pois era de descendência alemã e seus pais mantinham a cultura.

—Sorvete de chocolate. Falou ela rindo e ao mesmo tempo encantada com o rapaz.
—Acho que vou ter que encurtar a querida, o meu vôo esta chegando. Dora avisou interrompendo a história.
Deixe -me continuar... Liebe, que quer dizer, querida em alemão, era como ele a chamava, se apaixonou por Joahan. E como num piscar de olhos se passaram três anos. Tinham planos para casar, ter filhos essas coisas até que um dia,Liebe esperava Joahan voltar da escola onde ele ensinava alemão. Mas nada.

Soube através dos locais que Joahan havia sido deportado e responderia por deserção na corte. Felizmente mais tarde, soube que ele fora absolvido, mas não livre da pena de poder deixar seu país. E Liebe disse que se não fosse Joahan não seria mais ninguém e nunca mais encontrou outro amor.
—Triste demais. Disse carla.

—Mas eu sempre acreditei em final feliz, querida!

—Liebe! Liebe! Gritava um senhor do outro lado do saguão. Dora então se levanta e vai de encontro ao seu amado uma espera que parecia eterna. Enquanto isso Carla pegou o livro deixado ali na cadeira, que estava escrito na capa: Meu diário.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Musa inspiradora




Ela estava deitada envolta aos lençóis brancos entrelaçado em suas pernas bem torneadas e cobertas por uma leve penugem dourada, uma cena digna de um Monet. Colado ao rosto estava suas mãos, como em sinal de prece. E pode apostar os anjos dormiam com ela. Um pequeno cordão com a inicial de seu nome adornava seu pescoço longilíneo, que combinava com as pequenas sardas espalhadas em seus ombros.

Eu só conseguia admirá-la. Tamanha serenidade espalhada pela cama, tendo eu a pouco desfrutado de sua fúria, e pelas marcas no meu corpo essa lembrança se estenderá por alguns dias. Sentei-me à minha escrivaninha, que ficava de frente para minha cama. Usando da comparação, um apartamento de frente para o mar. Poderia simplesmente contemplar, ou usá-la como objeto de mais um dos meus textos.
 
Comecei a digitar suavemente para não acordá-la, queria congelar aquela cena. E como um anatomista, descrevia cada parte de seu corpo, pude descobrir coisas que no calor das emoções passaram ligeiramente. Já se foram duas páginas só de descritiva dos atributos daquela mulher. Um tédio para os leitores. Um orgasmo literário para mim.

O sol  já dava o sinal de sua graça atravessando minha janela, e emoldurava minha musa criando uma espécie de aurora boreal, Nunca em toda minha vida solitária e misantropa, me senti tão bem acompanhado. O astro rei agora  lhe dá boas vindas mais uma vez convidando-a a mais um dia.

—Bom dia disse “P”:
—Bom dia! Respondi com um ar penoso.
—O que você está fazendo? Perguntou ela enquanto se vestia.
—Descrevendo você.
—Mas isso não estava no combinado. Vou cobrar mais cinqüenta reais.
—Tudo bem. Você vai estar disponível quarta-feira? É que não terminei ainda o segundo capítulo.
—Me liga e a gente vê. Mas já sabe né, vou cobrar a mais por isso.
Então “P”,Patrícia, Penélope, Paloma sei lá, deixa em branco mais algumas páginas...da minha vida.

domingo, 25 de abril de 2010

Muita sacanagem e pouco sexo



O perfume cítrico pairava no ar junto com as ondas sonoras da autoria de Tellonius Monk. Perfeita simbiose. Ela vestia apenas uma camisola que transparecia seus atributos. Eu me encontrava ali, sentado frente ao computador na tentativa de achar um bom conto, para que feito uma criança órfã eu achasse meus pais, no caso, meus leitores—Pura egolatria!

Fingi não notar os intentos da minha amada, o que não impediu sua investida por um sexo caloroso e eu claro, ainda estava nas preliminares; do meu conto. Meus dedos percorriam o teclado provocando uma sensação de prazer incrível. Imaginava que em pouco pudesse jorrar idéias incessantes. Por trás ela olhava com uma expressão...diríamos: de puta. Porém de raiva ! Afinal diante de tantos comportamentos bizarros e prazerosos, ser “voyeuer” de pretenso escritor não excita em nada.

Queria muito que fosse breve. —Por favor, meu conto tá—. Mas nada, não conseguia chegar lá. Fui tomado de uma agonia e ela de fúria. Já havia bebido desta água e sabia que ao ter meus contos lidos me proporcionariam imensas ondas de prazer. Até que descobri um jeito sórdido para esse dilema fosse resolvido, de modo que satisfizesse os dois. Apaguei o que estava escrevendo e fiz este texto dando um título lascivo e pervertido onde boa parte iria querer adentrar...

...simplesmente a mais pura sacanagem. E com ela. Bem. Isso é outra história.