terça-feira, 27 de abril de 2010

Musa inspiradora




Ela estava deitada envolta aos lençóis brancos entrelaçado em suas pernas bem torneadas e cobertas por uma leve penugem dourada, uma cena digna de um Monet. Colado ao rosto estava suas mãos, como em sinal de prece. E pode apostar os anjos dormiam com ela. Um pequeno cordão com a inicial de seu nome adornava seu pescoço longilíneo, que combinava com as pequenas sardas espalhadas em seus ombros.

Eu só conseguia admirá-la. Tamanha serenidade espalhada pela cama, tendo eu a pouco desfrutado de sua fúria, e pelas marcas no meu corpo essa lembrança se estenderá por alguns dias. Sentei-me à minha escrivaninha, que ficava de frente para minha cama. Usando da comparação, um apartamento de frente para o mar. Poderia simplesmente contemplar, ou usá-la como objeto de mais um dos meus textos.
 
Comecei a digitar suavemente para não acordá-la, queria congelar aquela cena. E como um anatomista, descrevia cada parte de seu corpo, pude descobrir coisas que no calor das emoções passaram ligeiramente. Já se foram duas páginas só de descritiva dos atributos daquela mulher. Um tédio para os leitores. Um orgasmo literário para mim.

O sol  já dava o sinal de sua graça atravessando minha janela, e emoldurava minha musa criando uma espécie de aurora boreal, Nunca em toda minha vida solitária e misantropa, me senti tão bem acompanhado. O astro rei agora  lhe dá boas vindas mais uma vez convidando-a a mais um dia.

—Bom dia disse “P”:
—Bom dia! Respondi com um ar penoso.
—O que você está fazendo? Perguntou ela enquanto se vestia.
—Descrevendo você.
—Mas isso não estava no combinado. Vou cobrar mais cinqüenta reais.
—Tudo bem. Você vai estar disponível quarta-feira? É que não terminei ainda o segundo capítulo.
—Me liga e a gente vê. Mas já sabe né, vou cobrar a mais por isso.
Então “P”,Patrícia, Penélope, Paloma sei lá, deixa em branco mais algumas páginas...da minha vida.

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